A Ciência Política em Brasília (1962-2019)*

David Fleischer[1]1

 

            Em agosto de 2014, comemoram-se vinte-cinco anos (Bodas de Prata) da implantação do Curso de Graduação em Ciência Política na Universidade de Brasília – a primeira graduação plena em Ciência Política no Brasil.  Também foram comemorados os 30 anos do início dos dois Cursos de Mestrado (em Ciência Política e em Relações Internacionais) na UnB em março de 1984.  Em 2002, iniciou-se o Doutorado em Relações Internacionais e, finalmente, em 2008, começou o programa de Doutorado em Ciência Política.

Primórdios

          Em 15 de dezembro de 1961, o então presidente da República João Goulart sancionou a Lei 3.998, que autorizou a criação da Universidade de Brasília.  A organização e implantação da UnB ficaram a cargo de Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira.

A Universidade de Brasília (UnB) foi inaugurada em 21 de abril de 1962, dividida em institutos centrais e faculdades. Foram criados os cursos-tronco, nos quais os alunos tinham uma formação básica e, depois de dois anos, estudavam as matérias específicas.

Um destes institutos centrais foi de Ciências Jurídicas e Políticas sob o comando do então ministro Victor Nunes Leal junto com Fernando Abranches e outros.  Foram recrutados vários jovens para compor o quadro de professores auxiliares, como Theotônio dos Santos Junior e a sua então esposa Vânia Bambirra, recém-formados no Curso de Sociologia Política na Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (em 1961) – e José Paulo Sepúlveda Pertence que havia terminado o Curso de Direito na mesma UFMG em 1960.  (Leal, 1984)

Desde 1943, Victor Nunes Leal foi professor na antiga Universidade do Distrito Federal (que depois foi incorporada à Universidade do Brasil) onde lecionava a disciplina de “Ciência Política” no Curso de Filosofia. Serviu como Chefe da Casa Civil no governo do Presidente Juscelino Kubitschek (1956-1960) e em dezembro 1960 este nomeou Victor Nunes para o Supremo Tribunal Federal (STF).  Já na Nova Capital, participou ativamente da organização da Universidade de Brasília.  (Favetti, 2013)

Também; veio do Rio de Janeiro o professor Ruy Mauro Marini.  Pertence, Marini, Theotônio e Bambirra cursaram seus respectivos mestrados na UnB de então.  Este grupo também contava com Luís Fernando Vitor, Teodoro Lamounier, Albertino Rodriguez e Perseu Abramo.

         Com o Golpe Militar em 1964, estes professores foram demitidos e procuraram exílio no Chile e México para então retornar ao Brasil depois da Lei da Anistia (Lei nº 6.683), em 1979.  Depois de sucessivas “devassas” no seu corpo docente, a UnB começou uma recomposição do seu corpo docente a partir de 1967-1968 e uma reestruturação do currículo na área de Ciências Sociais.  Vários novos professores foram recrutados inclusive docentes com pós-graduação no exterior. (Aleixo, 2014; Laraia, 2014; Salmeron, 2007; Lelis, 2011)

Departamento de Ciências Sociais

         No início de 1969, os professores Roque de Barros Laraia (Antropólogo do Museu Nacional-Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ) e José Carlos Brandi Aleixo (Georgetown University, nos EUA) foram contratados para implantar o novo Curso de Graduação em Ciências Sociais, que havia sido criado no Brasil quando o Curso de Sociologia Política foi extinto pelo governo militar. (Cintra, 1966)

         Naquela época existia na UnB o Departamento de Política com os professores Suely Alves de Souza, Vitor Nunes Leal e Dário Abranches Viotti – que, por motivos diferentes, não foram incorporados ao novo Departamento. Élbio Néris Gonzáles, com mestrado da University of Oregon (EUA), também estava presente no antigo Departamento de Sociologia e Antropologia e, no final de 1969, chegou o Professor Hélcio Saraiva (Ph.D. em Sociologia Rural pela University of Wisconsin (EUA) que mais tarde se licenciou para ser Reitor da Universidade Federal do Piauí. Estes últimos dois foram incorporados ao novo Departamento.

         No 2º semestre de 1969, realizou-se o primeiro vestibular para o Curso de Ciências Sociais – com três concentrações: Sociologia, Antropologia e Ciência Política.  Na concentração de Ciência Política constavam as seguintes disciplinas: Introdução à Ciência Política, Teoria Política Clássica, Teoria Política Moderna, Teoria Política Contemporânea e mais cinco disciplinas de tópicos especiais.

         O professor Roque Laraia se tornou o Diretor do novo Instituto de Ciências Humanas.  Depois do Prof. Aleixo, chegou o Professor Gláucio Ary Dillon Soares que completou seu Ph.D. em Sociologia Política na Washington University (EUA).  O Prof. Gláucio havia trabalhado no Curso da FLACSO no Chile, antes de chegar à UnB em 1969.

Existia um Curso de Graduação em Serviço Social mantido por um grupo de Irmãs numa instituição religiosa no início da L-2 Sul.  A pedido das Irmãs, este curso foi incorporado à UnB em 1969 – com todos os alunos e alguns dos docentes.  Este curso foi inserido no Departamento de Ciências Sociais e várias das disciplinas do curso de Ciências Sociais se tornaram obrigatórias e optativas para este Curso de Serviço Social.  Mais tarde, nos anos 1990, este Curso se tornou o Departamento de Serviço Social (SER) – com uma graduação, mestrado e doutorado. (Aleixo, 2014; Laraia, 2014)

         Também em 1969, começou uma “ponte” ou linkage entre a área de Ciência Política na UnB e o Departamento de Ciência Política da UFMG, com a chegada de egressos do Mestrado em Ciência Política daquela instituição – Maria Inês Bastos Mello e Celson José da Silva. Mais tarde, em 1974, chegou a Professora Maria Carlota de Souza Paula que também concluiu Mestrado pela UFMG.  Em 1976, o Professor Celson seguiu para a Alemanha para fazer seu Doutorado em Ciência Política na Universidade de Heidelberg com o Professor Dieter Nolan.  A Professora Maria Inês também se desligou da UnB e depois fez seu Doutorado na Inglaterra.  Como se pode ver na listagem dos 29 docentes do Programa de Pós-Graduação em Ciência na UnB, em 2019, três destes são egressos do Doutorado em Ciência Política na UFMG.

         No 2º semestre de 1970, o Departamento. de Ciências Sociais na UnB deu início ao Mestrado em Sociologia com uma sub-área em Ciência Política com a atuação dos Professores Gláucio Soares e José Carlos Aleixo e depois com a chegada de Alexandre Barros (University of Chicago) em 1971 e David Fleischer (University of Florida) em 1972.  Este mestrado recebeu uma dotação da Fundação Ford em 1973 que permitiu a vinda do Prof. Peter Evans em 1974-1975.  Em 1973, o professor Alexandre Barros retornou ao Rio de Janeiro para trabalhar no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), vinculado à Universidade Cândido Mendes.

         No 2º semestre de 1972, com a chegada do Prof. Roberto Cardoso de Oliveira do Museu Nacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro (entre outros) foi iniciado o Mestrado em Antropologia.

         Em 1974, a UnB inaugurou o primeiro Curso de Graduação em Relações Internacionais no Brasil.  A montagem deste Curso foi elaborada pelos professores Aleixo e Ana Maria Vilela (Departamento de Direito).  Porém, sendo que nenhum departamento da UnB foi envolvido na montagem deste Curso não foi possível inserir este curso em nenhum dos departamentos existentes (Ciências Sociais, Economia, Administração, Direito, História, etc.)  . Assim, durante os primeiros dois anos deste curso (1974 e 1975), ele foi lotado na Direção do Instituto de Ciências Humanas (IH) sob a coordenação do Prof. Roque Laraia. (Aleixo, 2014; Laraia, 2014)

Departamento de Ciência Política e Relações Internacionais

         Mais tarde, no primeiro semestre de 1976, com o apoio do Ministério das Relações Exteriores - MRE (Itamaraty), a UnB criou o novo Departamento de Ciência Política e Relações Internacionais (REL) para abrigar este novo curso.  Vários docentes do Departamento. de Ciências Sociais, como Prof. Aleixo e Profa. Maria Izabel Valladão de Carvalho (IUPERJ), se transferiram para esta nova unidade (REL).  Também, o REL recebeu docentes transferidos dos departamentos de Direito e Administração – e ainda alguns diplomatas cedidos pelo MRE para serem professores colaboradores: Carlos Henrique Cardim, Luiz Augusto Castro Neves e Celso Amorim.  Além de ministrar as disciplinas do Curso de Relações Internacionais, o REL também se incumbiu de manter a oferta das disciplinas da área de Ciência Política do Curso de Ciências Sociais.

         Apesar do Curso de Relações Internacionais ter sido “abrigado” no Instituto de Ciências Humanas (IH) sob a coordenação do Diretor desta Unidade, Prof. Roque Laraia, por alguma razão, o novo departamento (REL) foi inserido dentro da Faculdade de Estudos Sociais Aplicados (FA) – junto com os Departamentos de Direito, de Administração e de Biblioteconomia.

         No 2º Semestre de 1980, o REL lançou um Curso de Especialização em América Latina (Pós-Graduação Lato Sensu) com o apoio da Organização dos Estados Americanos (OEA), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Itamaraty/MRE, CAPES/ Ministério da Educação, Conselho das Relações Internacionais da América Latina e Caribe (RIAL), e a Sub-Secretaria de Cooperação Econômica e Técnica Internacional (SUBIN) do Ministério do Planejamento – sob a coordenação do Prof. Aleixo.  Este curso foi repetido cinco vezes nos anos pares até 1990.  (Aleixo, 2011)

         O referido Curso de Especialização em América Latina estava destinado a ser também passo intermediário para a criação de um Núcleo de Estudos Latino-Americanos e um Programa de Mestrado em Relações Internacionais.

         A partir de 1980, o Prof. Cardim se tornou Decano de Extensão na UnB e também Diretor da Editora da UnB.  Assim, esta Editora se empenhou para traduzir e publicar vários livros nas áreas de Ciência Política e de Relações Internacionais reconhecidos como “clássicos” nos Estados Unidos e na Europa.

         No início dos anos 1980, o Decanato de Extensão lançou um programa – “Encontros Internacionais da Universidade de Brasília” -- e convidou um número de especialistas “notórios” para passar uma semana na UnB. Vieram Henry Kissinger, Roberto Dahl, Giovani Sartori, John Kenneth Galbraith, Noberto Bobbio, entre outros.

         Após um período de pesquisas pós-doutorais na SUNY-Albany (1980-1982), o Prof. David Fleischer se transferiu do Departamento de Ciências Sociais para o REL no 2º semestre de 1982.  Em 1983, os docentes do REL começaram uma mobilização para a montagem de dois cursos de Mestrado – em Ciência Política e em Relações Internacionais.  Assim, estes dois Mestrados foram aprovados pelo Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação e do Conselho Universitário da UnB, a tempo de iniciar as aulas em 1º semestre de 1984.

Dois Novos Mestrados

         Cada mestrado contou com quatro docentes – Ciência Política – Walder de Goés, Vamireh Chacon, David Fleischer e Nelson Lemann e Relações Internacionais – Antônio Augusto Cançado Trindade, Ana Maria Vilela, Lytton Guimarães e José Carlos Brandi Aleixo. 

         Em abril de 1985, o professor David Fleischer foi eleito Chefe do REL e novos professores foram contratados como colaboradores no 2º/1985 – Antônio Octávio Cintra (que veio da UFMG para trabalhar no MEC), Celso Amorim (MRE), Nielsen de Paula Pires (que foi exilado no Chile e México) e Adriano Benayon (MRE).  No final de 1985, o MEC obrigou a UnB a “enquadrar” todos seus professores visitantes e colaboradores e estes professores foram inseridos no quadro permanente da Universidade.

         Em 1986, começaram os esforços para conseguir o credenciamento destes dois mestrados junto a CAPES.  Porém, o parecer recomendava a fusão dos dois mestrados num só programa, sendo que Relações Internacionais foi considerada uma “sub-área” da Ciência Política. Na segunda visita de uma “comissão CAPES”, esta reuniu com os alunos dos dois cursos e num diálogo “contundente” estes alunos convenceram a comissão CAPES de que – “Sim” – eram duas áreas distintas, e logo em seguida os dois cursos foram credenciados pela CAPES.

         Logo em seguida, tentou-se credenciar os dois mestrados como membros da ANPOCS – mas inicialmente foram rejeitados.  Somente conseguiram o aval da ANPOCS em 1989.  Aparentemente, o “problema” era que com os dois mestrados, o REL teria dois votos na ANPOCS.

         Em meados de 1985, o Professor Fleischer foi contactado pelo Subchefe para Assuntos Parlamentares do Gabinete Civil da Presidência da República – SUPAR (do Governo Sarney), o Embaixador José Jerônimo Moscardo de Souza, que indagou se a UnB tinha como montar um curso de treinamento para assessores parlamentares do Poder Executivo, pois estes não estavam devidamente preparados para atuar com o “novo Congresso” após o fim do Governo Militar. 

         Assim, o grupo de Ciência Política do REL organizou um Curso de Especialização em Assessoria Parlamentar (Pós-Graduação Lato Sensu) que iniciou suas atividades no 1º semestre de 1986 com 40 alunos – em convênio com o Ministério do Planejamento.  A maioria dos alunos deste primeiro curso era de assessores parlamentares de ministérios e órgãos do governo federal (inclusive dos Ministérios do Exército, Marinha e Aeronáutica) e ainda cinco funcionários do Serviço de Processamento de Sados do Senado Federal (Prodasen), e dois do setor privado.

         Este Curso foi repetido em 1988, 1991, 1996, 1997, 2000, 2002 e 2004.  A partir de 1996, contou com o apoio gerencial e administrativo da FINATEC.  Em 1996 e 1997, recebeu cinco alunos da Assembléia Nacional de Moçambique com bolsas da USAID.  Também passou a receber um número cada vez maior de alunos do setor privado e de ONGs.  (Freitas, 2011)

         Vários egressos deste Curso entraram para o Mestrado em Ciência Política que em 1988 a 1990 abriu uma concentração em Estudos sobre o Legislativo.  Esta área de “estudos legislativos” contou com a colaboração do Professor Antônio Carlos Pojo do Rego – Assessor na Câmara dos Deputados (Rego, 2009) e Profa. Leany Lemos, Assessora do Senado Federal.

         Em 1987, o Reitor da UnB, Prof. Cristovam Buarque, iniciou um programa de reintegração por anistia política de ex-docentes da UnB que haviam sidos despedidos, cassados e/ou expulsos entre 1964 e 1979.  Em 1988 e 1989, o REL recebeu dez reintegrados – inclusive Theotônio dos Santos Junior, Ruy Mauro Marini e Vânia Bambirra.  Marini chegou a ser o Coordenador do Mestrado em Ciência Política. Além destes, o REL também recebeu outros docentes de universidades federais por transferência – Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC (Antonio Brussi), Universidade Federal Fluminense - UFF (Paulo Kramer), Universidade Federal de Pernambuco - UFPE (Juarez de Souza), Universidade Federal do Piauí - UFPI (João Ribeiro) e Universidade Federal de Goiás - UFGO (Carlos Marcos Batista).  Conseguiu transferir alguns docentes de outros departamentos na própria UnB (Sociologia, Argemiro Procópio; Administração, Luiz PedoneServiço Social, Mary Dayze Kinzo; e História, Nelson Lemann) e realizou uma serie de concursos públicos.  Em 1985, o REL contava com 17 docentes e em 1989 chegou a 42.

         Até dezembro de 2018, 198 dissertações de Mestrado em Ciência Política foram defendidas na UnB.

         Em 1987, o Reitor Cristovam Buarque conseguiu três bolsas para professores visitantes financiadas pela CEB-Companhia de Eletricidade de Brasília.  Uma foi para o ex-deputado federal João Gilberto Lucas Coelho (PMDB-RS).  João Gilberto havia se tornado um especialista nas áreas de eleições e partidos, sendo relator de várias matérias importantes.  Assim, ele reforçou as áreas de estudos legislativos, sistemas eleitorais e partidários.

         No início de 1987, a Editora da UnB publicou o relatório da comissão de “notáveis” [a Comissão Afonso Arinos] que em 1985 e 1986 havia elaborado um anteprojeto para a nova Constituição – porém, o então Presidente José Sarney recusou a publicar o mesmo.  Então, o Reitor Cristovam Buarque mandou a Editora da UnB publicar este relatório. Este “livrinho” foi distribuído para todos os Constituintes e assessores da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), bem como as pessoas e instituições que acompanharam a Constituinte. (Pereira, 1987)

         Em 1987, a UnB criou o CEAC - Centro de Estudos e Acompanhamento da Constituinte com o Prof. João Gilberto como seu Coordenador.  O CEAC reuniu professores, alunos e funcionários da UnB além de pesquisadores de outras unidades e ONGs em Brasília.  O resultado das atividades do CEAC foi muito produtivo – teses, livros, monografias, artigos, etc.  Em 1998, o CEAC-UnB editou um livro analisando a ANC. (Guran, 1988)[2]

A primeira tese de mestrado em Ciência Política que foi defendida em 1989 e analisou os trabalhos de duas subcomissões da ANC. (Parada, 1988)  

         Em 1987, a Fundação Ford contactou o REL para negociar um convênio com recursos destinados para fortalecer e incrementar o programa de Relações Internacionais.  Uma primeira dotação de US$ 200,000.00 foi destinada para o biênio 1988/1989 e uma segunda dotação de US$ 230,000.00 para o período 1990/1991.  Estes recursos foram usados para apoiar cinco linhas de pesquisa, bolsas para os assistentes de pesquisa, aquisição de material para a Biblioteca da UnB e os primeiros computadores para o REL. (Miceli, 1993; Brooke & Witoshynsky, 2002)

         Em 1990, o Professor João Gilberto foi eleito vice-governador do Estado de Rio Grande do Sul pelo PSDB e assim deixou a UnB.

         Em 1987, o Reitor Cristovam Buarque articulou junto à FLACSO a criação de um novo programa de Doutorado sobre a América Latina na UnB – CEPPAC - Centro de Pesquisas e Pós-Graduação nas Américas.  Este novo empreendimento envolveu professores dos Departamentos de Sociologia e Antropologia (que já tinham seus programas de doutorado funcionando desde 1982).  Os outros departamentos com professores doutores com pesquisas e publicações sobre a América Latina, como Ciência Política, Relações Internacionais, Economia, História, Geografia, etc. foram “esnobados” : “Vocês ainda não têm cursos de doutorado e assim não podem participar”.  Como vimos acima, o Prof. José Carlos Brandi Aleixo, o então Diretor da FA (1985-1989) era o maior especialista sobre América Latina na UnB. 

         Mais tarde, no final dos anos 1990, depois que a UnB rompeu o convênio com a FLACSO o CEPPAC passou a recrutar docentes de outros departamentos para colaborar com este programa – inclusive docentes da Ciência Política.  Agora, o CEPPAC tem 10 docentes efetivos e outros 12 “colaboradores” de outras unidades.

         A partir dos meados dos anos 1980, o programa em Pós-Graduação em Ciência Política passou a receber vários doutorandos dos EUA., Europa, etc. para servir de “base” enquanto realizaram as suas pesquisas de campo para suas respectivas teses de doutorado – como Timothy Power (Notre Dame University), David Samuels (UC San Diego), Wendy Hunter (UC Berkeley). Kurt Weyland (Stanford University), Zachary Elkins (UC Berkeley) – entre outros.  Também, passou a receber vários professores visitantes internacionais.

         Em 1989, foi lançada a Revista Brasileira de Ciência Política que depois de um período em “hibernação” foi relançada em 2009.  Atualmente é classificada como “B1” pela CAPES. [3]

         Em 1987, o REL recebeu um professor visitante pela KAS-Fundação Konrad Adenauer – o Professor León Enrique Bieber.  Prof. Bieber é cidadão alemão nascido na Bolívia que fez seu doutorado na Alemanha em Relações Internacionais.  Ele atuou no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais até 1994 quando retornou à Alemanha.  

         Depois da queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, vários cientistas russos ficaram desamparados e o CNPq ofereceu “bolsas de fixação” por três anos no nível de Professor Adjunto I e despesas de viagem para atrair estas pessoas para se vincular a universidades brasileiras na esperança que depois fizesse um concurso público para fazer parte do corpo docente permanente da sua respectiva universidade.  Em 1991, o REL recebeu o Professor Boris F. Martynov da Universidade de Moscou com seu doutorado em Relações Internacionais.

         Em 1994, o REL conseguiu duas vagas e preparou dois concursos para os professores León Bieber e Boris Martynov, mas infelizmente decidiram retornar aos seus respectivos países de origem.  Matynov retornou a Moscou e oucupa o cargo de Vice-Diretor do Instituto de América Latina da Academia de Ciências da Russia.

Curso de Graduação em Ciência Política

         No 2º semestre de 1988, um grupo de alunos da concentração em “Ciência Política”, dentro do Curso de Ciências Sociais procurou o então Chefe do REL, Prof. David Fleischer, com uma reclamação “lógica” :

“Nós formamos e somos chamados de ‘Cientistas Políticos’, mas somente cursamos umas 7 ou 8 disciplinas em Ciência Política, propriamente dito  -Gostaríamos de abrir um novo Curso de Graduação plena em Ciência Política, desmembrado do Curso de Ciências Sociais”. 

Em resposta, o Prof. David ponderou “Escolham quatro alunos e eu selecionarei quatro docentes para compor uma comissão para elaborar este novo curso”.  Assim, a proposta e o currículo deste novo curso foram entregues ao Conselho Universitário (CONSUNI) no 1º/1989 que foi aprovado a tempo para realizar o primeiro vestibular em julho 1989 e a primeira turma começou em 2º/1989. 

Assim, novamente, como o caso da Graduação em Relações Internacionais (criada em 1974), a UnB criou o primeiro Curso de Graduação pleno em Ciência Política no Brasil.

         Todos os alunos da concentração “Ciência Política” no Curso de Ciências Sociais que assim desejassem podiam transferir-se para o novo Curso de Ciência Política. A primeira turma de quatro alunos se formou no 1º semestre de 1991.

         Os alunos deste Curso desenvolvem algumas atividades interessantes, como uma atividade de extensão chamada “Política na Escola” (levar conhecimentos e atividades de Ciência Política para as escolas secundárias em Brasília), o Projeto Politéia (simulaçõs do legislativo) e uma “empresa júnior” : Strátegos[4].

         Como atividades curriculares obrigatórias, os alunos de Ciência Política desenvolvem estágios no Congresso Nacional, ministérios e órgãos do governo federal,  partidos políticos, embaixadas e organizações internacionais, empresas do setor privado, institutos de pesquisa, empresas de lobby e relações governamentais, ONGs, etc.  Também, são obrigados a elaborar e defender um “Trabalho Final de Curso” [monografia].   

Criação de Dois Novos Institutos

         No final de 1994, o Consuni transformou o REL num Instituto de Ciência Política e Relações Internacionais (IPR) dividido em dois departamentos separados.  Assim, no 1º/1995, foi realizada uma eleição “paritária” para escolher um novo Diretor e Vice-Diretor para o IPR.  Esta eleição “emperrou” quando a comissão eleitoral alterou a fórmula para tabular os votos dos três segmentos – docentes, discentes e funcionários.  A solução foi para o Reitor, o Consuni e CAD-Conselho de Administração “resolverem”.  A solução encontrada pelo então Reitor, Prof. João Claudio Todorov, foi de escolher um “interventor” que acabou sendo o docente sênior “com os cabelos mais brancos” – Prof. Vamireh Chacon.  Depois de uma fase de “acomodações” quando docentes da área de Relações Internacionais transferiram para Ciência Política e vice-versa, a Reitoria decidiu criar duas unidades separadas: um Instituto de Ciência Política (IPOL) e um Instituto de Relações Internacionais (IREL).  Esta mesma “solução” havia sido adotada com a criação de institutos separados de Química e de Física.

         No 2º semestre de 1997, realizou-se um concurso para Professor Titular e a Professora Lúcia Mercês Avelar (aposentada na Unicamp) foi aprovada e depois em 2002 foi eleita Diretora do IPOL.  A área de Comunicação Política foi reforçada com a chegada do Prof. Arthur Venício de Lima transferido do Dept. de Comunicação/Jornalismo (UnB) e Prof. Luís Felipe Miguel aprovado num concurso público.  Também por concurso, chegou o Prof. Terrie Ralf Groth da Universidade Federal de São Carlos.  Logo depois que o Prof. Arthur Lima foi aprovado num concurso de Professor Titular, ele decidiu se aposentar.  Terminado o mandato da Profa. Lúcia, foi eleita a Professora Marilde Loyola de Menezes.  Quando o mandato dela terminou, o Professor. Paulo Calmon foi eleito em 2016.

Graduação em Gestão de Políticas Públicas

         A Pós-Graduação em Ciência Política criou uma forte área em Políticas Públicas nos anos 1990 com a contratação do Prof. Paulo Calmon em 1993 e a organização de um Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas (NP3) no CEAM-Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares em 1998.  Este núcleo contou com recursos do MEC e do Ministério da Reforma do Estado e empreendeu vários cursos de especialização e aperfeiçoamento – especialmente para o Ministério da Previdência Social, o Tribunal de Contas da União e o Ministério do Planejamento.  Mais tarde, o NP3 se tornou o CEAG - Centro de Estudos Avançados de Governo e Administração Pública.

         Em 1999, a Professora Rebecca Abers chegou como pesquisadora no NP3 com seu projeto – Marca D’água (Políticas Públicas com Recursos Hídricos) – em parceria com a Professora Margaret Keck de Johns Hopkins University (EUA).  (Abers & Keck, 2013) Em 2006 ela entrou para o IPOL (via concurso) e chegou a ser a Coordenadora do Programa de Pós-Graduação.

Neste período, cogitou-se abrir um curso noturno em Políticas Públicas, pois, o MEC oferecia sete novas vagas para cada novo curso noturno.  Porém, o colegiado do Departamento de Ciência Política foi contra – “Isto vai dar muito trabalho para nós”.

         Porém, em 2009 juntaram-se o IPOL e os Departamentos de Economia e de Administração para criar um novo curso noturno de graduação em “Gestão de Políticas Públicas” – com 50 vagas por semestre, via uma gestão “consorciada” entre aquelas três unidades.  O Programa REUNI alocou dez novas vagas para docentes deste Curso, cinco das quais para o IPOL que resultaram na contratação dos professores Mathieu Turgeon, Denilson Coelho, André Borges, Alexandre Costa e Graziela Teixeira.

         Em 2013, a FACE (Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia) criou o novo Departamento de Gestão e Políticas Públicas (GPP) que gerencia este novo Curso

Assim, com várias aposentadorias, o IPOL realizou um grande número de concursos públicos e seu corpo docente foi aumentado e diversificado.

http://www.unb.br/aluno_de_graduacao/cursos/gestao_de_politicas_publicas

Doutorado em Ciência Política

         O Doutorado em Ciência Política foi implantado finalmente em 1º semestre de 2008.  Porém, o IREL começou o seu doutorado antes em 1º semestre de 2002.  Nesta mesma época, este programa recebeu o grupo de “História das Relações Internacionais” que se transferiu do Departamento. de História.  Estes seis docentes, liderados pelo Prof. Amado Luiz Cervo reforçaram bem este programa do IREL.

         Com 31 docentes credenciados para atuar no Doutorado do IPOL em 2019, este programa já produziu 37 teses defendidas até dezembro de 2018.  Este programa está estruturado em duas áreas de Concentração e seis linhas de pesquisa:

 

Democracia e Sociedade

- Cidadania, Legitimidade e Identidades

- Democracia e Desigualdades

- Participação, Estado e Sociedade Civil

 

 Política e Instituições.

 - Estado, Economia e Políticas Públicas

 - Instituições Políticas

 - Partidos e Comportamento Político

 

         IPOL tem seis grupos de pesquisa – PET/POL, CIVES (Cidadania, Identidades e Valores Políticos), Demodê (Democracia e Desigualdades), LAPCIPP (Laboratório de Pesquisas em Comportamento Político, Instituições e Políticas Públicas), GIPP (Grupo de Pesquisa em Instituições e Políticas Públicas) e RESOCIE (Repensando as Relações entre Sociedade e Estado)

         Relacionado às comemorações dos 50 anos de Brasília, a BRASA-Brazilian Studies Association realizou seu 10º Congresso em Brasília em 22-24 de julho de 2010.  Infelizmente, o então Reitor da UnB, Prof. José Geraldo de Souza, proibiu a co-participação de qualquer unidade da UnB na organização deste Congresso.  Porém, muitos docentes e discentes da UnB tiveram participações individuais bastante ativas. 

Em 2012, a LASA-Latin American Studies Association condeceu o Luciano Tomassini International Relations Book Award para o livro da Profa. Marisa von Bülow.  (von Bülow, 2010)

         Entre 4 e 7 de agosto de 2014, o IPOL recebeu e organizou em Brasília o Congresso Bianual da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) que foi criado em 1986 e reformulado em 1997.  Em 2018, Profa. Flávia Brioli foi eleita Presidente da ABCP. 

 

Ciência Política na UNIDF

         Em 2003, o Prof. David Fleischer se aposentou na UnB e se tornou Professor Emérito em 2005 junto com o Professor Vamireh Chacon.  Porém, Fleischer continua ministrando uma disciplina por semestre no IPOL e orientando teses de mestrado e doutorado.

         No 1º semestre de 2005, Prof. Fleischer foi contratado pela UNIDF (Centro Universitário do Distrito Federal) – uma instituição privada fundada em 1967 – para implantar um novo Instituto de Ciências Políticas e Sociais, com três novos cursos (noturnos) de graduação: Ciência Política, Relações Internacionais e Sociologia.  Fleischer assumiu a Direção deste novo Instituto na UNIDF e o primeiro vestibular em 2º/2005 recrutou alunos para iniciar os cursos de Ciência Política e de Relações Internacionais, mas nunca conseguiu um quórum mínimo para Sociologia.

         Este Curso de Ciência Política foi montado com uma forte concentração em “Políticas Públicas” – sendo que muitos funcionários públicos em Brasília aspiravam uma formação nesta área, mas somente poderiam estudar a noite.  Para ministrar as disciplinas neste Curso de Ciência Política/Políticas Públicas foram recrutados vários alunos e ex-alunos de pós-graduação da UnB como docentes.

         Em 1º/2007, o Prof. Fleischer pediu demissão da UNIDF por discordar das políticas educacionais e didáticas adotadas naquela instituição privada.

 

Bibliografia

ABERS, Rebecca N. & KECK, Margaret E. 2013.Practical Authority: Agency and Institutional Change in Brazilian Water Politics. New York: Oxford University Press.

ALEIXO, José Carlos Brandi2011. Seis Cursos de Especialização em América Latina (1980-1990): Uma experiência de capacitação de recursos humanos.  Brasília. Universidade de Brasília.

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[1] 1 - O presente texto é uma atualização de (Fleischer, 2014 e 2016). Agradeço as sugestões e criticas de Paulo Calmon, Lúcio Rennó, Roque Laraia, José Carlos Brandi Aleixo, Antonio Lassance e Dina de Almeida.

*  Professor Emérito do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília

[2]http://books.google.com.br/books/about/Caderno_CEAC_UnB.html?id=aMwOAAAAYAAJ&redir_esc=y

[3]http://www.scielo.br/rbcpol

[4] www.strategos.org.br